Se o faz, quando o faz, por vezes uma ou duas adesões em cem bastarão para que com propriedade se possa orgulhar de sucesso.
A propósito de um evento festivo recente, ressurgiu-nos o sobressalto quanto à antiga dicotomia entre exigência e popularidade.
Isto é, até que ponto deve um amante de música ceder à pressão do apelo popular, normalmente impenitente e visceral?
Não é esta uma questão com resposta fácil. Deve respeitar-se o contexto, dando à massa o que ela anseia ter, ou deve procurar elevar-se o patamar, tentar lançar sementes de interesse pelo que está mais longe, mesmo correndo o risco de desagradar a dois terços?
Pistas para resposta possível: foi a modernidade, quanto à cultura, mais consistentemente resultado do consenso ou da ruptura? foi ou não sempre negativa a resposta primeira ao novo, pela inevitável estranheza e até rejeição? e será que não foi muitas vezes depois popular o que começou por aparecer rejeitado?
Quando chamada a terreiro, deve a cultura ceder, entregando-se sem desafiar, ou deve antes se necessário chocar, para depois talvez seduzir...pelo menos alguns?
Entendemos no DIVERSUS que a cultura que nos está adiante, que rejeitamos porque não conhecemos, ou porque o nosso paradigma comportamental é o de negar antes sequer de conhecer, essa cultura deve em primeiro lugar ser apresentada, sujeitando, neste caso, o ouvinte ao choque, eventualmente depois à adesão, embora mais provavelmente à rejeição.
Definitivamente, a facilidade é quase sempre adversária da exigência e só com exigência o consumidor cultural vai poder ele também ser actor cultural, participante da arte que consome. E aí o divulgador, mesmo o divulgador amador, tem um papel também ele desafiante, o de fazer pedagogia cultural, revelando a quem não conhece o que poderiamos chamar de músicas ocultas.
A IMAGEM: David Guttenfelder, 2024
Há 3 horas