Os sons de hoje confundem-se mais e mais com os sons de ontem, e todos eles com os sons de sempre.
Dito de outro modo, muito do melhor que se dá a conhecer em 2006, deve quase tudo aos sons com alma negra que de há 20, 30, 40 anos ficaram legados para a posteridade.
São decerto muitas audições e vivências com Curtis Mayfield, Marvin Gaye, ou George Clinton, ainda com Bob Marley, algum Fela Kuti por certo também, e com tantos outros menos conhecidos que a várias das mais recentes gerações vão moldando a pulsão criativa.
Têm sido tantos e tão estimulantes os revivalistas com grande produção revelada este ano que quase já lhes perdemos a conta - Jhelisa, The Invisible Session, Steve Harvey, The Bamboos, Quantic, etc. Acrescentamos agora os Lefties Soul Connection .
Têm sede em Amsterdam e a verdade é que estavam quase sem história, antes do seu estoiro editorial, já em 2006.
Contam no entanto com vinis vários com grande procura (quase todos reunidos em Hutspot), e terão tido assinalável sucesso nas performances públicas, sobretudo na Holanda natal e no Reino Unido.
O som pesado e gordo, mas vivo (deep funk e raw soul, palavrões novos para designar a crueza deste som), que ouvimos em Hutspot não parece ser ponto de partida, antes um momento de fecho de ciclo, possivelmente até de consagração.
Palavras talvez já demais para chegarmos à conclusão de tratar-se este de mais um grande disco de 2006, animado pela força inesgotável do grande coração Soul, muito enfatizado aqui por um órgão Hammond tocado maravilhosamente por Alviz, um destes 4 cavalheiros brancos e europeus de Amsterdam.
Inescapável finalmente é ver nos Lefties assim como que o contraponto Funk aos grandes congéneres do heavy dub, os Twilight Circus Sound System, essa outra força fantástica da interpretação europeia contemporânea do mesmo paradigma cultural (Twilight a que voltaremos decerto um destes dias), por coincidência também com base conhecida na mesma Holanda.