domingo, 21 de março de 2004

Carlos Paredes

Carlos Paredes compôs e interpretou das mais belas peças de música portuguesa.

Num registo não erudito mas próximo do som "de câmara", marcado pela pequena dimensão das suas obras (entre os dois e os quatro minutos), Paredes editou os seus àlbuns ao longo de mais de duas décadas, poucos àlbuns, até desiguais entre si, no valor.

Mas "Guitarra Portuguesa" é o melhor de todos os àlbuns da música jamais feita por portugueses e "Movimento Perpétuo" está por perto no extraordinário alcance cultural que atingiu.

Por entre todos os portugueses ocorre-nos apenas mais três cujo nome pode aproximar-se do de Carlos Paredes, apenas um ainda vivo: Emmanuel Nunes, Carlos Seixas e José Afonso.

Aos três voltaremos por certo mas de Paredes lembramos ainda a faceta notável do músico que ao vivo se transfigurava, respirando alterosamente sempre que sentia o tremor e a empatia das audiências.

Tivemos o privilégio no DIVERSUS de da primeira fila o ouvirmos tocar, talvez em 1986, nas instalações do então ISEG, perto de S. Bento.

Mas não teriamos precisado dessa extraordinária experiência para alcançar o brilho da magia de Carlos Paredes. Ouvir "Mudar de Vida" sem arrepios é coisa que nunca nos aconteceu, muitas dezenas de audições depois.

Neste qualquer domingo queremos lembrar que em Portugal nasceu ao menos um génio para a história da música universal: Carlos Paredes, hoje agonizante num qualquer obscuro lar de Lisboa, morrendo humildemente, como pobremente viveu.

terça-feira, 9 de março de 2004

"24 hour party people"

Vale a pena encontrar este filme e com ele reviver aquele período extraordinário da transição cultural na geração de fins dos anos 70.

Em Manchester, em 1977, 42 pessoas assistem a um concerto dos "Sex Pistols" e à explosão sonora de "God Save the Queen" e outras canções da mesma voltagem, autêntico murro duplo no estômago das consciências da Grã-Bretanha pré-Thatcher.

De entre esses 42, boa parte viria a encetar percursos criativos dos mais fantásticos, acima de todos Tony Wilson, o futuro patrão da Factory Records.
E foi justamente a sua característica de patrão único, quase irrepetível, que faz notícia neste filme.
Porque foi genuína, honesta e inspiradora de projectos musicais verdadeiramente notáveis, Wilson assistiu ao dealbar, depois ao esplendor e em seguida ao ocaso. E acima de todos ao seu próprio ocaso.

Enquadrou manifestações multivivenciais em torno da música, projectos de empresa de raiz mais ou menos libertária, sempre tendo em vista que a criação era o que mais importava.

Poucos anos depois a indústria devorou-o. Mas as raizes ficaram e a Factory ficou marco inesquecível para talvez milhões pelo mundo todo.

O período marcado pela Factory Records foi longo, o seu alcance geográfico imenso. Em Portugal os Sétima Legião, ou os saudosos Croix-Sainte foram talvez a sua melhor materialização. Na cinzenta Manchester de fins de 70, inícios do 80, a Joy Division, os A Certain Ratio, ou os New Order, foram os filhos dilectos da obra editorial de Wilson.

"24 hour party people" acaba não sendo bem um filme, mais um "docudrama". O que lá se vê, tudo muito realista, diz-nos que não foi particularmente bonito viver por dentro.

Mas perguntemo-nos: foi alguma vez uma revolução cultural bonita, polida e perfeita no seu alcance?

Tony Wilson está hoje funcionário da Granada TV. Essa a história mais triste de todas que o filme nos diz. Como pode a sociedade olvidar tão cruelmente os seus melhores?

Quem puder, que veja este filme.

sexta-feira, 5 de março de 2004

Os Lambchop em Portugal

Em Maio, os Lambchop vêm a Portugal, trazendo consigo aquela ladaínha saborosa que mescla "country" com "blues", e ambos com inúmeros sinais de modernidade cultural.

É um som vicioso o da banda de Kurt Wagner, que só pode ganhar com a autenticidade do palco.

E é definitivamente o primeiro grande concerto em Portugal de 2004.

Para quem não conhece ou conhece mal estes sons, a nossa recomendação de que deve travar o conhecimento começando por aquele que é um dos àlbuns fundamentais das últimas décadas da chamada música Pop: "How I quit smoking".

Vamos então conhecer melhor, em Lisboa, os "costeleta de borrego".