Carlos Paredes compôs e interpretou das mais belas peças de música portuguesa.
Num registo não erudito mas próximo do som "de câmara", marcado pela pequena dimensão das suas obras (entre os dois e os quatro minutos), Paredes editou os seus àlbuns ao longo de mais de duas décadas, poucos àlbuns, até desiguais entre si, no valor.
Mas "Guitarra Portuguesa" é o melhor de todos os àlbuns da música jamais feita por portugueses e "Movimento Perpétuo" está por perto no extraordinário alcance cultural que atingiu.
Por entre todos os portugueses ocorre-nos apenas mais três cujo nome pode aproximar-se do de Carlos Paredes, apenas um ainda vivo: Emmanuel Nunes, Carlos Seixas e José Afonso.
Aos três voltaremos por certo mas de Paredes lembramos ainda a faceta notável do músico que ao vivo se transfigurava, respirando alterosamente sempre que sentia o tremor e a empatia das audiências.
Tivemos o privilégio no DIVERSUS de da primeira fila o ouvirmos tocar, talvez em 1986, nas instalações do então ISEG, perto de S. Bento.
Mas não teriamos precisado dessa extraordinária experiência para alcançar o brilho da magia de Carlos Paredes. Ouvir "Mudar de Vida" sem arrepios é coisa que nunca nos aconteceu, muitas dezenas de audições depois.
Neste qualquer domingo queremos lembrar que em Portugal nasceu ao menos um génio para a história da música universal: Carlos Paredes, hoje agonizante num qualquer obscuro lar de Lisboa, morrendo humildemente, como pobremente viveu.
A IMAGEM: David Guttenfelder, 2024
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