Este António não necessitaria grandes apresentações, vivêssemos nós numa sociedade do centro-norte europeu.
Por aí, os índices de frequência dos concertos e das antenas rádio e televisão dedicadas à música clássica são outros, bem como é outro o interesse real pela erudição musical, pelo estudo e aprendizagem sistemáticos.
Por cá (ainda) não é assim, e a Antena 2 recolhe 0,7 % de share da audiência radiofónica, umas 30 vezes menos que uma RFM, e ainda umas 7 a 8 vezes menos que a TSF.
Tudo vem a propósito de uma mutação no papel social que António Cartaxo vem empreendendo.
Durante muitos anos o seu recanto fôra no magnífico programa "Em Sintonia com António Cartaxo", um espaço na Antena 2 (94,4) que felizmente perdura ainda, com emissão semanal.
Nos últimos anos, chegou-se à mais popular Antena 1, com apontamentos curtos diários, aí tornando mais acessível pequenos trechos, um pouco à laia de hits clássicos.
No passado sábado, com emissão semanal garantida para os próximos sábados (cerca das 22:30), estreou na RTPN o programa "Grandes Músicas", uns 28 minutos de puro deleite, em que se revela o corpo e a teatralidade surpreendente da voz que durante tantos anos sentimos como absolutamente magnética.
António é um pedagogo, um grande sabedor, e verdadeiramente um contador de histórias.
As pequenas histórias que contou no primeiro episódio, ilustrando músicas de Gershwin, Strawinski, Satie, Debussy e até Beethoven (revelando para espanto de muitos por certo uma passagem de jazz avant-la-lettre escondida da sonata para piano nº 32, uns 100 anos antes de se inventar o nome para uma música swingada, do género vaudeville rápido), claro que souberam a pouco e apenas pecam por esconderem excessivamente as músicas elas mesmas.
Um programa para melómanos e para todos os amantes de música, e uma oportunidade excelente para se travar conhecimento com uma das mais fascinantes personalidades da nossa rádio e da nossa cultura das últimas décadas.
A IMAGEM: David Guttenfelder, 2024
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