Esperei alguns dias para escrever sobre o concerto de quarta-feira de Jon Hassell, acontecido no Teatro Maria Matos.
No fim Jon Hassell veio lamentar-se de uma performance em seu entender desapontante. Talvez também essa desconcertante atitude tenha relativizado o efeito do que se tocou nessa noite de Lisboa.
Como um dia um poeta popular bem perguntava, pode alguém ser quem não é?
A música mais recente de Jon Hassell deixou-se seduzir por uma dimensão onírica que em termos de precedentes consigo situar no chamado Jazz nórdico, que também em Lisboa já antes escutei a John Surman ou terje Rypdall. A música de agora (última década) de Jon destaca-se pelo quase paisagismo tão patente em "Last Night the Moon Came Dropping Its Clothes in the Street", o portentoso disco de 2009.
Nada de errado pois em fazer assentar uma performance ao vivo na produção mais recente com a Maarifa Street, hoje, por sinal, integrando dois músicos moruegueses.
Ainda antes da auto-crítica final do génio norte-americano já o público tinha provado o respeito pelo resultado daquela ida. Não entusiasmo, mas respeito. Não bateu palmas entre trechos, mas aplaudiu longamente no fim dos quase 80 minutos.
É que não se tratava de um concerto Pop. Jon Hassell nunca foi um músico Pop.
Quanto a nós, sentimos bem o efeito nocivo do demasiado Pop que enche a nossa melomania de hoje. É preciso escutar ainda melhor Jon Hassell e aqueles que como ele estão além da tentação popular. Vem daí a conclusão de ter sido este um dos meus concertos do ano. Foram 80 minutos de um utilíssimo alerta cultural.
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