domingo, 23 de abril de 2006

Elephant, de Gus Van Sant


Hoje vi Elephant.

A história é por demais conhecida, até pela sua presença na memória televisiva recente: o morticínio causado em liceu comum por rapazes aparentemente muitíssimo comuns.

É de modo simples, mas fortíssimo, que acontece a encenação em Elephant, conseguindo mostrar o mais invulgar e terrífico fenómeno na sua maior naturalidade original.

A vertigem que Elephant nos traz é a da representação do caos que há talvez em todos...e em cada um de nós.

A morte naquele liceu não tem, em Elephant, sequer a marca que associamos ao belicismo da sociedade americana, o que teria sido até confortável, arrumando-se a preocupação no Outro, neste caso o Outro sendo o americano comum, obeso, banal, como reconhecemos do estereótipo cultural.
O massacre de Columbine, em 1999, que é ponto de partida para Elephant, pode afinal suceder em qualquer cidade do mundo. E isso bem sabemos nós, deste outro lado do Atlântico.
Há apenas poucas semanas sucedeu no Porto, não em Columbine, o assassínio de um homem, provavelmente com requintes de diversão juvenil, às mãos de miúdos tão comuns como os de Elephant.

Sem necessitar de criar verdadeiro espectáculo, Elephant é um inteiro portento fílmico, destacando-se a mestria com que manipula o tempo dramático, aparentemente inferior ao tempo real que demora, uns 80 minutos.
Tudo tão rápido, para ver se percebemos que os tempos de hoje, como os de ontem (ver a referência hitleriana, nas imagens citadas em Elephant), não nos deixam mesmo a coberto da loucura...que afinal quase seguramente até nos habita também a nós os dois, solitário leitor.