SPIELBERG é (para além de nome de terra austríaca) seguramente das marcas culturais mais fortes na indústria ocidental contemporânea.
A marca SPIELBERG identifica espectáculo, emoção, stress cognoscivo, assenta em personagens emblemáticos, associa-se a produtos fílmicos que, sempre parecendo procurarem mais o efeito que um objecto, estabelecem com sucesso o que chamariamos de "vital link" com as suas audiências.
Tomemos o exemplo de um dos mais fantásticos filmes de Steven: DUEL, de 1971, feito para televisão.
Personagem emblemático: dois, o temível "killer truck" e o condutor do automóvel, (Dennis Weaver, no papel do "ordinary character"), apanhado pelo destino mais cru nas inóspitas e intermináveis estradas americanas.
Espectáculo, emoção, stress: toda a tramitação do filme, o inescapável ataque do camião, a procura do homem, nunca encontrado, por detrás do vazio cinzento e gigantesco, a absoluta necessidade de se ascender sempre ao nível do próximo patamar, aqui não parecendo tão óbvio e assegurado que haverá um final feliz.
E em DUEL Steven SPIELBERG joga com o efeito diabólico do mais fundador dos sentimentos, aquele que mais a todos nos mobiliza: o medo.
No cinema de Spielberg, como em geral no cinema quase todo, o medo é o factor chave da atracção, logo do sucesso.
Tal como o personagem de Weaver em 1971, o espectador sente o medo, assusta-se, primeiro refugia-se, logo depois quer entrar e se possível experienciar o desfecho, envolvendo-se.
O envolvimento do espectador, a quase levitação da realidade, há-de conduzi-lo para a sensação de participação na "sorte" do actor e do enredo, e é aí que se dá o efeito de empatia primária que marca SPIELBERG, como marcou antes HITCHCOCK e tantos outros.
Fica o convite: ver DUEL e encontrar o paradigma do sucesso da empresa SPIELBERG, a chave da marca, ainda sem o doce aroma dos milhões.
Voltaremos a SPIELBERG.
Kim Deal, Opus 1
Há 57 minutos