sábado, 27 de setembro de 2003

Os COMATEENS: cultura interdita na era digital

Por inícios dos anos 80, talvez mesmo em 1980, em Nova Iorque, 2 jovens - Nik North e Ramona Jan - juntam-se a uma modesta caixa de ritmos e encontram-se sob este nome fútil e inexpressivo que é The COMATEENS.

Uma guitarra e um sintetizador a sério trazem depois respectivamente Oliver North e Lyn Byrd, a tempo de perfazerem a formação que assinaria um dos grandes àlbuns de canções da década de 80, "The COMATEENS", de 1981, lançado pela obscura editora da cidade - entretanto desaparecida e com catálogos em mãos incógnitas - Cachalot Records.

Variadas canções se destacam daquele conjunto inesquecível de melodias e ritmos simples, mas uma em especial: "Ghosts".

Há dias, um sábado de tarde, alguém se lembrou de passar "Ghosts" na rádio, na VOXX, e aí renasceu esta vontade de conseguir o que há mais de 20 anos não logramos: encontrar registos com som dos COMATEENS. Pelo menos mais vivo que o que se extrai de uma fita SONOVOX de 1980, gravada num SHARP de um ou dois watts.

É que "The COMATEENS" nunca foi editado em CD.
Aliás, do que é sabido, nenhuma edição deste grupo ocorreu, para além do seu fim, em 1985. Mais tarde, em fins dos anos 80, Oliver North morreria, e todos estes nomes ficaram mais enterrados que antes no banimento que lhe devotou a indústria e a memória da cultura "mundi".

Como face a tantos outros autores, tal qual em outras artes, o mercado soube ser cruel. Provavelmente, os COMATEENS venderam não mais que 2 ou 3 milhares de exemplares de cada um dos seus 3 LP's, situação fatal: não há público, não há edição.

Mas no DIVERSUS temos uma tese cá nossa: o problema central da edição musical, ou talvez da edição cultural em sentido amplo, é a cabeça dos editores, dos seus managers e executivos, mesmo dos mais "liberais".
Arrogam-se a compreensão plena do mercado, de conseguirem totalizar a compreensão do que vende e, não raro, decretam pelo insucesso pretérito a impossibilidade de um êxito em geração e em contextos histórico-culturais diferentes.
E falham muitas vezes. Atingem então o glorioso estatuto de agentes de autêntica situação de lesa cultura, que o mundo com consciência crítica deve desprezar.

Por exemplo "Ghosts", devidamente promovido nas rádios europeias de hoje, seria um "hit" de estalo, como se tivesse sido agora mesmo produzido.

Optimistas que somos, confiamos que também neste caso uma personalidade sensível e sensata há-de algum dia pegar nesta autêntica oportunidade de negócio de que aqui falamos.

Se o DIVERSUS pudesse editar, nem que fosse em vinil, por certo iria pegar nos COMATEENS. E quem sabe se amanhã...não conseguiremos que acabe o opróbrio.



Para referência de quem se interessa, os COMATEENS foram contemporâneos de outros esquecidos ou semi-esquecidos norte-americanos da mesma geração, alguns com a mesma outros com pouco mais sorte que a sua, como The FLESHTONES, RIP RIG + PANIC, The FEELIES, WAS (NOT WAS), dB's, B-52's, GUN CLUB, The CRAMPS, entre outros.