quarta-feira, 8 de julho de 2009

Michael Jackson e a memória

Todos sabemos que a memória é sempre selectiva, e é efémera, e deixa ficar preso por resíduos o âmago das coisas e das pessoas.
Michael Jackson foi um bom músico Pop, bem trabalhado pela indústria e genialmente reformatado por um fantástico produtor musical, Quincy Jones.
O álbum "Off the Wall", em 1979, cristalizou o melhor de Michael. Já o bom disco de canções que é "Thriller" tinha sobretudo a mão de Quincy, no género "featuring Michael Jackson".
Estou a caricaturar, é claro.
O facto é que depois de "Thriller" Michael deixou de existir enquanto fenómeno musical vivo. Continuou depois o fenómeno cultural, cada vez mais extra-musical.
Quando por estes dias, levianamente, por todo o lado se ouve falar de Michael como o "rei da Pop", é preciso registar bem que a música Pop não tem nem nunca terá reis. Nem mesmo Elvis Presley. Nem tão pouco os Beatles.
A música Pop é como a memória, efémera por definição e felicidade. Quanto muito, grandes fenómenos Pop têm boas fases, períodos de brilho. Mas depois sempre perdem fulgor e evanescem naturalmente. A Pop é necessariamente orgânica.
E, não saindo da América e da negritude, Marvin Gaye, Curtis Mayfield, ou até Prince seriam sempre mais "reis" que Michael foi ou poderia ter sido.
Mas tenho de reconhecer que composições com a força deste "Don't Stop 'Til You Get Enough", a abertura de "Off the Wall", podem suscitar legítimas dúvidas sobre se Michael Jackson tinha ou não, afinal, o rasgo tão próprio dos génios.