segunda-feira, 13 de abril de 2009

o megafone de Algés

Em 1981 eu estudava de noite, tendo inaugurado um pré-fabricado por detrás das linhas de comboio na zona de Algés. O Ministério da Educação fadava-o para uns provisórios 3 anos (e há poucos anos ainda era lá que se dava aulas).
Aí se estreava então (1980/1981) o 12º ano em Portugal.
Tinha de resto sido minha sina ir estreando coisas no sistema escolar, do 7º unificado ao então 12º foram todos de enfiada.
Mas a história, hoje e aqui, é outra.
Em plena Primavera, bem na praça central de Algés (hoje lugar do terminal rodoviário, por debaixo do acesso ao viaduto que nos leva à CRIL), instalou-se uma enorme tenda de circo.
Todas as noites, aí pelas 11 da noite, quando eu apanhava o autocarro para retornar à minha casa da Estrela, o DJ tocava Comsat Angels e o "Eye of the Lens". Terá o circo lá estado 1 mês. Pois foram pelo menos 30 passagens desta cançoneta.
Não era por amplificação convencional tipo PA. Era um simples megafone amplificado. Talvez por isso, pelo som básico, elementar, cru, não estereofónico, tocado a plenos pulmões por um pobre megafone de há 28 anos, talvez por isso "Eye of the Lens" ficou comigo como um emblema de um certo tempo de modernidade. Da modernidade de então.
Elemento curioso desta memória é que aquele single não estava disponível no circuito comercial em Portugal e eu tive de esperar anos para lhe pôr a mão. Com o que se conclui que não há limites para a inovação. Até de uma tenda de circo alguém pode mexer com consciências e atitudes.
Mas, voltando ao som, se tocado hoje a alguém com os meus 18 anos de então, esta música dos Comsat Angels parecerá banal, muito "eighties". Exactamente como então os dos "eighties" nos riamos do certo exagero no sentido de modernidade que os que viveram os "sixties" ainda sentiam.
E afinal, o que é a modernidade? That's life.


Eye of the Lens - Comsat Angels