Estive poucas vezes no Hot Club, ali na Praça da Alegria.
A última vez faz já anos e nunca a esqueci, de tão emblemática.
Levava comigo um amigo, o Bill, que anos antes, em Birmingham, me tinha proporcionado uma excelente noite no famoso Ronnie Scott's.
Á entrada o Hot Club nada promete, sobretudo se comparado com a grandiloquência do Ronnie.
Depois entra-se, desce-se uns bons metros, em escada estreitíssima, e o que aparece são uns exíguos metros quadrados onde cabem poucas dezenas, se devidamente encostados uns aos outros.
Nos dias bons o Hot tem vinte, trinta pessoas.
Tem um balcão de serviço de líquidos e snack mesmo à medida, poucas mesas e um ambiente próprio de quem está em casa.
Ora nessa noite tocava uma banda tão informal quanto parece costume. Eu e o Bill tomávamos um copo e eis que se chega ao balcão o pianista, que depois de uns quarenta minutos de bom tocar intervalava para se refrescar. Seriam talvez umas duas da manhã.
Feito o elogio pela entrega, perguntou o Bill se actuava ele regularmente no Hot e em que clubes mais se poderia encontrá-lo em performance.
A resposta do pianista não deixou dúvidas: actuo aqui sempre que tenho cirurgias em Santa Maria. É o caso hoje. Tocar piano permite-me exercitar os dedos e a sua destreza. Por isso venho tocar. Entro no "banco" do hospital dentro de menos de uma hora.
Naquele dia foi um médico. Consta que em outros dias, noutros tempos, no Hot Club podia ver-se por vezes a descer as escadas um qualquer músico norte-americano em trânsito para espectáculos na Europa. Terá isto acontecido muitas vezes, nos anos sessenta e setenta, com músicos de primeira água, que fariam escala apenas para uma boa "jam session".
Acontece que senti saudades do Hot Club.
Na quarta-feira vou matá-las, com os Dead Combo, o mais promissor projecto musical Pop em acção aqui no rectângulo.
ps - a aguarela é de Elsa Canavarro
Casein - couteaux
Há 3 horas