A presença de Howe Gelb em Lisboa, por esta noite dentro, foi a vários títulos invulgar, ou, antes até, única.
Foram mais de duas horas e meia de música, num desfile majestoso de simplicidade e quase sempre unplugged, na forma de uma bela crueza country-pop.
Grande esplendor construido com apenas uma guitarra, às vezes amplificada, dois microfones com ajustamento de som diferente (primeiro plano/segundo plano), uma harmónica, um piano e sobretudo com o mérito de uma audiência pequena mas extraordinariamente interactiva com Howe - ao ponto de impor boa parte do alinhamento da noite, escolhendo e exigindo de entre os sons que Howe e a sua heteronímia, Giant Sand, The Band of Blacky Ranchette, Arizona Amp and the Alternator ou apenas as Howe, têm vindo a publicar de há uma década.
Mas antes do magnífico concerto do homem que just turned 50, apareceram os Dead Combo, para nos apresentarem - para nós, em absoluta revelação - a melhor música feita em Portugal que conhecemos nestes dias, apenas a par da promessa que os Buraka Som Sistema vieram trazer em 2006.
Há nos Dead Combo algo de notável, um enorme fôlego e uma destacada personalidade, que nos remete para inúmeras referências da cultura musicológica portuguesa (e não somente da cultura popular), ao mesmo tempo que é esta música lugar de uma expressão muito própria, ponte para outras memórias internacionais das últimas duas décadas (Felt, Billy Bragg, Labradford, Conjoint) que aqui poderão vir ainda a materializar-se melhor no futuro.
Grande expectativa e portentosa primeira parte, numa noite em que as guitarras e a depuração levaram magia a um espaço simpático, este do Santiago Alquimista, ali á Sé.