domingo, 28 de maio de 2006

Robert Wilson



Pela primeira vez trazemos ao DIVERSUS os livros, a propósito de Robert Wilson.
Recolhemos a primeira sugestão de leitura de um amigo galês, que o terá conhecido pessoalmente, dos círculos que os britânicos sempre formam, por Portugal inteiro.
Isto porque Wilson viveu algures por aqui, talvez procurando o conhecimento mais aturado que lhe proporcionaria o magnífico enredo de A Small Death in Lisbon/Último Acto em Lisboa.



Neste premiado romance de 1999, defendemos que Wilson derruba noções de género, desenvolvendo uma tal narrativa que está bem além de mero policial. Há "thrilling", mas há sobretudo tecido dramático, emoções, inteligência, rigor factual, propriedade histórica.

Esse foi de resto o nosso começo, deveras viciante.
Em seguida, com The Blind Man of Seville/O Cego de Sevilha, de 2003, saímos de Portugal para Espanha, mais exactamente para Sevilha, com vivências inesquecíveis em Tânger, Marrocos, mas também com episódios pela frente russa da II Grande Guerra.


Para além de uma grande história, e de uma vertigem surpreendente e muito desconcertante, O Cego de Sevilha revelou-nos um personagem marcante que haveria de continuar, Javier Falcon, e uma história arrepiante de verosimilhança, terror e angústia, questionando a identidade dos personagens, tanto quanto a dos leitores, que confronta com pesadelos destes dias que afinal são horrores bem vivos na história mais antiga dos homens.

E se muito de Portugal se soube no anterior romance, neste segundo o inspector-chefe Javier, o inspector Ramirez e demais comparsas da ficção trazem-nos matéria mais que bastante sobre os quês da memória de Espanha e das suas gerações ainda vivas, as gerações filhas da Guerra Civil de 1936-1939.

E falar da Guerra de Espanha é afinal falar outra vez de Portugal e da fome que os nossos pais e avós ainda experimentaram até ao início dos anos 40 e é falar também da grande precursora dos anos negros que se seguiriam com origem primitiva na pátria banhada pelo Rio Reno, pois foi em Espanha que primeiro se experimentou o odor das bombas nazis.

A nossa descoberta de Robert Wilson, e de uma escrita viva como há muito não encontrávamos, é já um dos factos marcantes da "petite histoire" em 2006 deste DIVERSUS e dos seus mentores.

segunda-feira, 22 de maio de 2006

quinta-feira, 18 de maio de 2006

The Invisible Session


Nos lugares de culto do costume (Flur e Symbiose, brevemente na Ananana também), já se pode encontrar The Invisible Session, testemunho fortíssimo, mais um, de que em 2006 o Jazz e a Soul estão cada vez mais juntinhos e com resultados geneticamente quase perfeitos.

Projecto de músicos italianos (Luciano Cantone, Paolo Fedreghini e Marco Bianchi) até agora fora do domínio público mais notório, The Invisible Session segue a receita de sucesso já muitas vezes provada, apresentando nas vozes cantores anglófonos não necessariamente da primeira linha, mas forçosamente com aquele timbre que dá alma à música. No caso, os convidados foram Jenny B. e Mika.

Juntamente com os àlbuns de Nathan Fake, Steve "The Scotsman" Harvey, Ben Harper e de Fink (este acabadinho de chegar aos locais de consumo, incluindo FNAC), The Invisible Session é já uma das paragens obrigatórias de 2006, prometendo muitos dias de antena nos melhores cd players por aí.

segunda-feira, 15 de maio de 2006

sons que o silêncio esconde


Burnt Friedman foi aos anos 70 convocar um fundador da percussão moderna.
Jaki Liebezeit, um percussionista que se inicia com os Can mal teria Burnt nascido - embora desde então sempre activo - traz para Secret Rhythms 2 uma respiração muito própria, capaz de apenas relevar o silêncio desnecessário.

Liebezeit parece saber há muito que o som, como cada vez melhor todos percebemos, pode muitas vezes ser tão só o recurso para o intervalo entre silêncios.

Librarian, com David Sylvian ao volante da voz, é depois o condimento seguro que aconchega melhor Secret Rhythms 2, ajudando com a sua cor tão peculiar a tornar este disco um espaço único de distensão e deleite no início de 2006.

domingo, 14 de maio de 2006

O fulgor místico de Clint Eastwood



Habituais retardatários, quanto a cinema, chegámos somente agora a Mystic River.


Conheciamos, é certo, todo o impacto criado logo desde 2003, o tempo da sua produção.


Admiramos Clint há muito, e, como grande parte do público medianamente cinéfilo, ainda mais reforçadamente depois de Unforgiven.

Passado o impacto deste novo prodígio de inteligência, suspense e emoção (ou será também de comoção?), vimos também nós afirmar tratar-se Mystic River de uma obra decisiva neste início de milénio, bem ao nível daquele ilustre antecessor da década de 90.

Aliás, essa parece ter sido a percepção geral, atendendo a que quase 42.000 visitantes do IMDB fizeram de Mystic River o número 170 do exigente top de preferências deste sítio on line (curiosamente, imediatamente adiante de Gone With the Wind).

Nula surpresa no entanto para nós, pois há já muito que considerávamos ser Clint Eastwood, talvez, um dos mais consistentes fazedores de grandes filmes dos últimos 15, 20 anos.


Quanto a Sean Penn e Tim Robbins só resta sublinhar o óbvio, de resto previsível: estão magníficos.

E a história? É realmente magistral.

quarta-feira, 10 de maio de 2006

E eis então os 100 àlbuns que vale mesmo a pena ouvir


Recuámos aos anos 50 do século XX, não considerámos músicas como o jazz, a erudita ou a experimental, excluímos a que tem tido origem em Portugal, e eis os nossos melhores, vistos com olhos de Maio de 2006:



1 Massive Attack.Blue Lines


2 Xtc.Nonsuch
3 The Clash.London Calling
4 Talking Heads.Remain In Light


5 Tom Waits.Swordfishtrombones

6 Microdisney.The Clock Comes Down The Stairs


7 Morphine.Cure For Pain

8 Velvet Underground.The Velvet Underground & Nico

9 Young Marble Giants.Colossal Youth
10 Brian Eno + John Cale.Wrong Way Up



11 Linton Kwesy Johnson.Forces Of Victory
12 The Specials.The Specials

13 John Cale.Honi Soit
14 Lambchop.How I Quit Smoking


15 David Byrne.Music For The Knee Plays
16 Lloyd Cole.Easy Pieces
17 Frank Sinatra.In the wee small hours
18 Rockers Hi-Fi.Rockers To Rockers
19 Salif Keita.Soro
20 Tom Waits.Closing Time

21 Hird.Moving On
22 The Clash.Sandinista
23 Tricky.Maxinquaye
24 A Certain Ratio.Sextet
25 John Cale.Music For A New Society
26 Doors.The Doors
27 The Specials.More Specials
28 Lindstrom & Prins Thomas.Lindstrom & Prins Thomas
29 Tim Buckley.Goodbye And Hello
30 Dexys Midnight Runners.Searching For The Young Soul Rebels
31 Curtis Mayfield.Superfly
32 Db's.Repercussion
33 Aim.Hinterland
34 The Feelies.Crazy Rhythms
35 Rockers Hi-Fi.Mish Mash
36 Cinematic Orchestra.Motion
37 Suicide.Suicide
38 David Sylvian.Brilliant Trees
39 Smiths.The Smiths
40 David Byrne + Brian Eno.My Life In The Bush Of Ghosts - remastered and expanded
41 Was (Not Was).Was(Not Was)
42 David Bowie.Scary Monsters
43 Joy Division.Closer
44 The The.Soul Mining
45 Youssou N'Dour.Immigrés
46 David Sylvian.Secrets Of The Beehive
47 Moodymann.Black Mahogani
48 Velvet Underground.The Velvet Underground
49 Dzihan & Kamien.Freaks & Icons
50 Microdisney.Everybody Is Fantastic



51 Curtis Mayfield.Curtis
52 De La Soul.3 Feet High And Rising
53 Virginia Astley.From Gardens Where We Feel Secure
54 Doors.L.A. Woman
55 David Bowie.The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars
56 Marvin Gaye.What's Going On
57 The Beat.I Just Can't Stop It
58 The Clash.The The Clash
59 T. Rex.The Slider
60 Thievery Corporation.Sounds From The Thievery Hi-fi
61 Mississipi Fred Mcdowell.Mississipi Fred Mcdowell
62 Sly & The Family Stone.There's A Riot Goin' On
63 Madlib.Shades Of Blue
64 Jam.All Mod Cons
65 Talking Heads.77
66 Koop.Waltz For Koop
67 Erika Badu.Baduizm
68 St. Germain.Boulevard
69 Dimitri From Paris.Sacrebleu
70 Gang Of Four.Entertainment
71 Rockers Hi-Fi.Overproof
72 Goldie .Timeless
73 John Cale.Paris 1919
74 Nathan Fake.Drowning in a sea of love
75 Robert Wyatt.Rock Bottom
76 Two Banks Of Four.City Watching
77 Nicky Skopelitis E Raoul Björkenheim.Revelator
78 Billie Holiday.Lady In Satin
79 Vv..Le Mystère Des Voix Bulgares
80 Ali Farka Touré.Red & Green
81 Doors.Strange Days
82 Sofa Surfers.Sofa Surfers
83 Youssou N'Dour.Nelson Mandela
84 Nusrat Fateh Ali Khan.Love Songs
85 Nusrat Fateh Ali Khan.Mustt Mustt
86 Underworld.Dubnobasswithmyheadman
87 Aphex Twin.Selected Ambient Works 85-92
88 Van Morrison.Astral Weeks
89 Tom Waits.Rain Dogs
90 Doors.Waiting For The Sun
91 Sandals.Rite To Silence
92 Up, Bustle And Out.Master Sessions 1
93 Lou Reed.Transformer
94 Etienne De Crecy Présente.Super Discount
95 Guru.Jazzmatazz Vol. 1 - An Experimental Fusion Of Hip-Hop And Jazz
96 Extended Spirits.Solid Water
97 Passions.Thirty Thousand Feet Over China
98 Wall Of Voodoo.Call Of The West
99 Ursula Rucker.Supa Sista
100 A Certain Ratio.To Each..



Grandes àlbuns: You Can't Hide Your Love Forever, dos Orange Juice


Canções de amor, nascidas na Escócia. Tantos clássicos nos trouxe este disco.

terça-feira, 9 de maio de 2006

Grandes àlbuns - Apple Venus vol. I e II, dos XTC


Há entre estes dois àlbuns dos XTC uma enorme proximidade - para além da contiguidade de edição, em 1999 e 2000 - que resulta óbvio dos títulos.
Há depois uma surpreendente dissonância na afirmação de um e de outro. Como se o vol. II, com o título complementar Wasp Star, fosse um disco de teenagers e o vol. I o produto do amadurecimento criativo.

O
vol. I de Apple Venus, com a sua distintiva capa de pena de pavão em relevo, traz-nos uma sucessão de canções sincopadas, basicamente acústicas. Já o vol. II faz uma incursão desabrida pela electricidade e pela velocidade, com canções com uma veemência que não desmereceriam aos mais aguerridos contemporâneos do Britpop. Daí talvez a sua capa negra, visceral.

Mas a série Apple Venus é muito mais que "música do seu tempo", como também mais importante que a sua inter-dinâmica é perceber-se como um núcleo de criadores estável, Andy Partridge e Colin Moulding (atenção às entrevistas da BBC para que nos conduzem os links ), consegue manter a sua arte tão em riste 22 anos depois do começo, fazendo nas imediações de 2000 canções com a mesma, senão mais, força que em 1978, ou 1979.


Como já antes referimos no DIVERSUS, os XTC serão com probabilidade a melhor banda Pop de sempre. Perto deles, talvez apenas os Beach Boys.

Ainda antes de outras inserções que melhor sustentarão a nossa convicção, a designação para esta lista de Apple Venus fica como um primeiro desafio, talvez a melhor forma de entrar nos XTC de quem não os conhece ou mal os ouviu.

Destacar canções é aqui ainda mais difícil que o habitual, mas mesmo assim arriscamos com duas, uma com Andy, outra com Colin na voz líder: Stupidly Happy e Standing in for Joe, ambas do vol. 2.

Grandes àlbuns - Brewing Up with..., de Billy Bragg



Billy Bragg fez uma pequena revolução, nos idos de 1983. Trouxe para a música Pop do renascimento dos anos 80 a noção da guitarra-solo electrificada e crua sem suporte de secção rítmica, ainda que com recurso pontual a instrumentos sem função primeiramente rítmica, como também a bateria. Uma espécie de guitarra-orquestra rock, com um resultado deveras magnético.

O primeiro àlbum, Life's a Riot Spy vs. Spy, deixara todo o DNA da solução inscrito para a posteridade. Mas foi com Brewing Up With... que conhecemos o seu pleno potencial.

Para além do lado inovador da coisa, o àlbum que agora destacamos elencou grandes canções, St. Swithins Day acima de todas.

Outros àlbuns se seguiram mas apenas em um mais chegou Billy Bragg quase tão perto de Brewing Up With...: foi no magnífico disco de 1986
Talking With the Taxman About Poetry.

Excelente notícia surgiu em 1993 quando os 2 primeiros àlbuns foram reunidos em um só CD, com o nome
Back to Basics. Esta aliás a única maneira de se encontrar Brewing Up With...

Grandes àlbuns - Reivax au Bongo, de Hector Zazou

Hector Zazou é um descobridor. Talvez se devesse antes dizer dele ser um convidador, tendo-se especializado na nobre tarefa de convocar ambientes, instrumentos e cantores/compositores de diferentes lugares ricos, para diásporas sonoras sempre inesquecíveis.

Reivax au Bongo é o resultado de uma autêntica imersão na fictícia região africana do Bongo, em boa verdade tratando-se de uma joint venture com músicos do Congo, acima de todos com o dono das vozes mais marcantes do disco, Bony Bikaye.
Uma imersão de tal ordem que mal se sente o europeísmo do resultado, antes daqui se extraíndo uma espécie de "bonguismo" com um europeu pelo meio.

O propósito não é inédito, nem o resultado o torna o melhor disco de fusão da história da música (escolha reservada talvez para Eno & Byrne, em My Life in the Bush of Ghosts), mas raramente o inter-culturalismo teve na música contemporânea uma honestidade como a que encontramos nesta obra de 1988.

Disco hoje difícil de encontrar, Reivax au Bongo teve mais dois irmãos de muito elevado nível: Sahara Blue (dedicado à música do norte de África, com Cheb Khaled, entre outros) e Chansons des Mers Froides (resultado da ida cultural de Zazou à Escandinávia, com o poeta Arthur Rimbaud, e com a chamada de Bjork e das Värttina, por exemplo).

Grandes àlbuns - Ege Bamyasi, dos Can



Em 1972 a música Pop estava em autêntica encruzilhada, como se se tratasse do prelúdio de algo de importante (de facto prelúdio da explosão britânica da segunda metade dessa década, prelúdio da força Pop dos anos 80). Nesse ano, o predomínio mediático estava com os sons mainstream e auto-contemplativos anglo-americanos e tudo se desconhecia para além disso.

Ege Bamyasi é a confirmação que a música portadora do bichinho da mudança morava em outro sítio, vestia outros sons.

Holger Czukay, Irmin Schmidt e Jaki Liebezeit, com Damo Suzuki nas vozes, vinham da Alemanha, e tinham já então variadas obras experimentais gravadas (a mais interessante delas, Future Days), sempre procurando o cruzamento entre jazz, às vezes o hoje chamado de música "world" e sempre o rock.

Mas este foi o àlbum em que Czukay, seu líder e eminente personalidade da música experimental, aluno de Karl-Heinz Stockhausen (mestre da música contemporânea, autor do fantástico Mantra), mais soube puxar os Can para a eternidade, dando-lhe um cunho Pop tal que ainda hoje, mais de 3 décadas depois, aí sentimos podermos encontrar novos ângulos e daqui se extraírem outras influências.

Obra não fácil, Ege Bamyasi requer várias audições, na promessa de mais tarde que cedo nos recompensar com aquele suco vital de que se fazem as performances históricas da música popular.

segunda-feira, 8 de maio de 2006

Grandes àlbuns - Simple Things, dos Zero 7


O àlbum de 2001 dos Zero 7 foi mais uma demonstração de como fazer uma grande obra e desaparecer (criativamente).
Pseudónimo dos produtores
Henry Binns e Sam Hardaker, com convite para as vozes de Mozez, Sia Furler e Sophie Baker, os Zero 7 fizeram de Simple Things uma obra irregular, por vezes quase banal.
Mas as suas maiores canções são mesmo magníficas, o bastante para o tornar uma obra globalmente de grande sedução.

Recomendação para várias canções, entre elas
This World, portentosa composição com Mozez como jamais o voltámos a ouvir cantar.

sábado, 6 de maio de 2006

Grandes àlbuns - Dirty Looks, dos Dirty Looks

1980 ficará assinalado como, talvez, o melhor ano da produção musical popular.
Foi nesse ano que, de ambos os lados do Atlântico, surgiu toda uma nova vaga de edições, marcadas pela inovação, pela diversidade, pelo transculturalismo, pela vertigem Pop propriamente dita. E acima de tudo pelo número elevadíssimo de canções de grande impacto melómano.

Gravando na etiqueta Stiff Records, uma das mais activas então, os Dirty Looks (originários de Staten Island, N.Y, em 1978) cumpriram a profecia mais conhecida da cena musical não erudita: fazer uma grande obra e depois desaparecer da primeira linha.
O primeiro e magnífico
Dirty Looks (atenção a este link, verdadeiramente raro), com o mesmo nome, apareceu, deslumbrou intensamente, e nem edição em CD jamais chegou a merecer. Ou seja, brilhou e foi efémero.

Depois, como muitas vezes sucedia (e provavelmente ainda sucede), a voragem da editora em multiplicar o relativo sucesso da primeira publicação - vendas superiores a 100.000 - encarregou-se de, à revelia dos Dirty Looks, impor sucessivas pós-produções, arrasando a qualidade Pop do segundo àlbum, Turn It Up.


A chaga do segundo àlbum é talvez a segunda grande maldição da música Pop: se o primeiro foi muito bom, então o segundo provavelmente será mau. No caso dos Dirty Looks, sabemos ao menos onde esteve o problema.

Grandes àlbuns - Café Bleu, dos Style Council


No início da década de 80 a imprensa britânica (NME e Melody Maker) deleitava-se com The Jam, misto de som post-Punk com Soul New Wave, referenciando insistentemente 4 a 5 dos seus àlbuns entre os 100 melhores, aliás muito merecidamente, aos olhos de então.

Mas os Jam eram coisa pouca para a ambição de Paul Weller, a sua voz e seu mentor, que, com Mick Talbot e Steve White, haveria de conceber o projecto Style Council.

Os Style Council aprofundariam o carácter Soul dos Jam, acrescentando-lhe uma dimensão caleidoscópica antes quase ausente dos paradigmas Pop europeus (se se excluir o solitário Van Morrison). Surgiram junto da Pop o Jazz, o Blues, o Gospel, o Funky, o Easy listening, ou coisa parecida com o que mais tarde se designaria de chill out.

Café Bleu é o palco da encenação de tão ambicioso desígnio, e a demonstração de um talento único, o de Paul Weller, que somente uma vez antes (com All Mod Cons - The Jam, 1978 - que nos ocupará mais tarde no âmbito desta lista) e nunca depois se manifestaria a este nível.

quinta-feira, 4 de maio de 2006

Grandes àlbuns: Hats, dos Blue Nile


Há discos que nos marcam uma vida inteira, década após década.
As canções de "Hats" ouvimo-las entre 5 a 10 vezes seguidas em cada audição, gostando sempre mais e mais.
Um encanto que perdura desde muito próximo do lançamento, em 1989, e que ameaça acompanhar-nos pelos anos seguintes, quantos venham a ser.

Mas ouçamos outros falarem destas "7 canções para noites de lua cheia", como alguém sabiamente em tempos se lhes referia:

PHILADELPHIA DAILY NEWS - "The emotive, yearning vocals and chilling tunesmanship of Paul Buchanan plus the band's poignant, minimalist arrangements make for a combination that is both sublime and heartbreaking."

ENTERTAINMENT WEEKLY - "Rejoice, acolytes--the Scottish priests of midnight yearning (...) the music (...): crystalline mid-tempo soundscapes in which regret and ecstasy twine into a spiritual double helix. "An ordinary miracle is all we really need," croons Paul Buchanan."

MELODY MAKER - "The Blue Nile sound more like being in love than being in love does."


Shawn St. John in AMAZON.COM - "This album is for anyone who has been hurt by love but dared to love again; for anyone who stayed up all night thinking about what they were going to say to her tomorrow--or should have said today; for anyone who wants so desperately to believe in something true and beautiful again; for anyone who has ever watched the world go by from a midnight train and felt the ache of every sleeping soul it passed; for anyone willing to think and feel and love."

Deixamos aqui um excelente o link para o video-clip de "Dowtown Lights", uma das melhores canções da banda de Paul Buchanan & Co.

segunda-feira, 1 de maio de 2006

FARGO


FARGO é um estrondo, uma diabólica encenação, um filme cru.

FARGO é um dos nossos grandes filmes de sempre, que agora revimos e reencontrámos, com grande prazer.

O que está no filme passou-se, e fica-nos a noção de que é seguramente possível que a realidade chegue a superar o que os irmãos Coen conseguiram levar à tela. Só por isso FARGO não é perfeito.

American Beauty, de Sam Mendes (e do argumentista Alan Ball)

American Beauty é um filme espantoso, à sua maneira elegante, belo. Um filme do nosso tempo, ficção das nossas dúvidas e dos nossos desequilíbrios.
Á primeira vista, é um filme sobre as aparências, mas na verdade não é. É um filme sobre os nossos fingimentos, aquilo que - aos 96 anos - Manoel de Oliveira dizia ser a nossa permamente representação, ao vivermos.

Perguntava ele, a propósito de se dizer que o seu modo de filmar era demasiado teatral, se o nosso viver não se faz, todo ele, por convenções, por normas, por standards, e se nós a todo o tempo não estamos a representar, no trabalho, em casa, às vezes até quando estamos sós.
Quanto tempo da nossa vida somos nós inteiramente autênticos, nós mesmos, sem condicionantes?

Manoel de Oliveira a propósito deste American Beauty, sublime retrato de nós, normais indivíduos, tantas vezes algo para o weird, como tantos dos personagens de Alan Ball e Sam Mendes.

Mais uma vez muito grande a performance de Kevin Spacey, um dos melhores actores deste nosso tempo.