O disco em que este "Baker Street" originalmente surgiu comprei-o, aí por 1981, na secção de discos de uma loja electrodomésticos de Lisboa, a Electro-Ouro, à Calçada da Estrela. Era o disco do vendedor, importado, raríssimo e entretanto riscado. Mas mesmo riscado foi intenso o debate e o rebate, tendo-o adquirido por uns fantásticos 100 escudos. E estou convencido que alguns riscos mais ele acabou por levar, e aí jaz ele, algures pelo sótão, mas com a sua pequenita história de mais de 25 anos.
Há em Debussy algo que amamos profundamente, uma força, uma serenidade, um deslumbramento, mas também o apaziguamento. Não sei se é da raiz impressionista da sua formação, do caldo de cultura de uma França na viragem para o século XX. Ou será antes o mérito de todo um novo género, que contrapõe a todas as exaltações românticas uma nova quietude artística, uma naturalidade afinal tão impressionante?
Ontem escutei o velho pianista Sequeira Costa falar da música na rara óptica do verdadeiro músico, daquele homem que dedicou mais de 60 anos já a viver para o que gosta, no caso o seu instrumento, o piano. Sequeira Costa falou da falta de "tempi" na música que hoje se toca, na ideia de um justo equilíbrio, em que nunca a emoção se sobreponha à racionalidade, sob pena de tudo estragar. Sequeira Costa falou nas diferenças entre músicos e instrumentistas, na diferença entre aqueles que conhecem música e os especialistas informáticos que "também" sabem música. Disse Sequeira Costa que quase nunca ouve discos, pois a música é uma experiência que se tem de viver, e não se pode viver senão em convívio, em comunhão com quem, interpretando, revive uma composição. Sequeira Costa, perguntado por quem são, foram, os grandes músicos do seu instrumento, lembrou poucos, um deles este Arturo Benedeti Michelangeli. Falou também Sequeira Costa numa noção nova, que ao piano, quase como ao violino, uma nota também se pode prolongar, tocando o pedal de uma determinada maneira. Ora reparem bem no gesto de pedal de Arturo. Grande momento existencial este de ter ouvido um professor, um mestre, uma grande pianista e músico, Sequeira Costa, já bem perto dos seus 80 anos. Tudo isto a propósito do reputadíssimo concurso internacional Vianna da Mota, este ano a celebrar o 50º aniversário, quase sempre com Sequeira Costa na sua condução e sempre ela a sua figura âncora.
Aos Zero 7 voltamos uma e outra e outra e ainda muitas mais vezes. Talvez porque gostemos muito, mesmo muito destas canções simples e melódicas, tocantes mas notáveis de rigor construtivo. É o nosso amor pela beleza das "Simple Things" afinal, como se titulava no álbum de estreia.
Um dia alguém se lembrou da palavra "clássico" para designar aquele brilho que não se repete nem jamais desfalecerá. Pois é isso mesmo que sucede com esta pérola de Goldie, encontrável em "Timeless", um álbum para uma vida inteira.
Lawrence dos Felt, os manos Guthrie e Liz Fraser dos Twins juntaram-se há uns 20 anos para fazerem esta maravilha de pouco mais de 4 minutos. Um momento feliz.
Depois dos Kings of Convenience, depois de "Unrest", em nome próprio, eis que regressa o notável Erlend Oye, para nos dar prazer Pop com simplicidade minimalista. Ou de como com menos por vezes se faz mais. Aqui tanto mais.
Os Buggles mostravam em 1979 que de entre a poeira do Punk a Pop teria de despontar. Aliás já despontava. Neste caso, a Pop era descarada, quase festivaleira, com vontade de vender milhões, de ser popular.
Da Europa não têm cessado os contributos para a modernidade na cultura. É da música que talvez surjam mesmo as maiores evidências de que, provavelmente, há mesmo uma só Europa, para lá das muitas nações e ainda muitas mais culturas. Originários um dos Balcãs e o outro de Viena, Dzihan & Kamien agitaram forte os espíritos na última década e ainda se arrojaram a capacidade de convocar resquícios de culturas extra-europeias, na confirmação de que para além de sermos comunidade, nós, os europeus, somos "a cidade cosmos" por definição que o mundo tem.
Houve um tempo em que o Blues se tornou duro, outra vez jovem, rasgou as vestes e se foi ao mundo, a partir da América. Foram os Cramps, foram outros e foi Jeffrey Lee Pierce e os seus Gun Club. Pouco tempo passado deste "Love and Desperation" Jeffrey morreu. Esse "novo Blues" parece que não lhe sobreviveu.
O "Intervenções Sonoras" é um belíssimo Blog sobre as músicas e quase sempre fala daquelas mais estranhas, das mais recônditas, das mais tímidas, das mais surpreendentes, ou seja daquelas de que por aqui mais gostamos. E depois o IS traz-nos muitas novidades, de modo conciso, numa simplicidade bem conseguida. Enfim, o IS é todo ele um bem-vindo ar fresco.
Com os Dexys de Kevin Rowland foi sempre assim, como se de imperiais se tratasse, depois da primeira vem sempre uma segunda e frequentemente uma terceira. A quart também apetece mas provavelmente embebedaria. Mas há sempre outro dia para os Dexys.
Em 1980 os A Certain Ratio levavam a palma aos que pretendiam abrir portas e entrever o que viria. Em 2005 revisitavam este brilhante capítulo da sua saga, numa performance bem á altura dos registos em disco de há quase 30 anos. É bom revisitar os passados que, como este, sabem ao tempo que ainda verdadeiramente se não instalou, ainda. Da etiqueta Factory, de Manchester os ACR de Simon Topping foram e ainda são dos mais arrojados projectos que a música moderna viu surgirem.
Enfim, tudo do melhor. E mesmo que nada mais ainda se editasse em 2007 e este já seria um dos anos com dos mais altos níveis de inovação e encanto. E ainda só vamos a meio.
O clip disponível (da série "Smallville") é quase inadequado, mas é ainda assim a única forma de dar a ouvir com imagens em fundo Patrick Watson a cantar com a Cinematic Orchestra, na canção de abertura de "Ma Fleur". É tão somente a mais bela canção que o Diversus ouviu de 2007, até agora. Bela sim, mas triste, a fazer doer, se não se escutar em momento certo.
Um dia, algures em 1991, foi publicado um disco que a posteridade haveria de consagrar como dos melhores álbuns de canções de sempre. No Diversus gostamos de "Blue Lines" mais do que qualquer outro álbum que conheçamos e esta "Unfinished Sympathy" condensa bem as razões porque nos perdemos de amores por esta música nascida em Bristol, no Reino Unido.
