Ontem escutei o velho pianista Sequeira Costa falar da música na rara óptica do verdadeiro músico, daquele homem que dedicou mais de 60 anos já a viver para o que gosta, no caso o seu instrumento, o piano.
Sequeira Costa falou da falta de "tempi" na música que hoje se toca, na ideia de um justo equilíbrio, em que nunca a emoção se sobreponha à racionalidade, sob pena de tudo estragar. Sequeira Costa falou nas diferenças entre músicos e instrumentistas, na diferença entre aqueles que conhecem música e os especialistas informáticos que "também" sabem música. Disse Sequeira Costa que quase nunca ouve discos, pois a música é uma experiência que se tem de viver, e não se pode viver senão em convívio, em comunhão com quem, interpretando, revive uma composição.
Sequeira Costa, perguntado por quem são, foram, os grandes músicos do seu instrumento, lembrou poucos, um deles este Arturo Benedeti Michelangeli.
Falou também Sequeira Costa numa noção nova, que ao piano, quase como ao violino, uma nota também se pode prolongar, tocando o pedal de uma determinada maneira. Ora reparem bem no gesto de pedal de Arturo.
Grande momento existencial este de ter ouvido um professor, um mestre, uma grande pianista e músico, Sequeira Costa, já bem perto dos seus 80 anos.
Tudo isto a propósito do reputadíssimo concurso internacional Vianna da Mota, este ano a celebrar o 50º aniversário, quase sempre com Sequeira Costa na sua condução e sempre ela a sua figura âncora.