reincidir em Flying Lotus

a síncope rítmica de Flying Lotus

tambores ao alto

"Milk", de Gus Van Sant: um grande filme, só para adultos

"Milk" é recomendável somente para cidadãos adultos, que até podem ter apenas os 16 anos de idade mínima exigida, mas que se preocupem com o mundo em que vivem.
Mas "Milk" poderia ser um filme para crianças, passado em salas de aulas como sessão pedagógica da tolerância e da abertura à diferença que há em todos nós.
"Milk" é ainda uma peça exemplar de representação da realidade norte-americana, de verdadeira vivência dos homens e mulheres reais nas lutas pelos direitos das minorias, na década de 1970. E se há uma pecha neste filme é exactamente a melhorável articulação do argumento e da sua trama com os fenómenos libertários de Woodstock e do Maio de 1968 em Paris e um pouco por toda a Europa (até no Portugal de 1969). O "é proibido proibir" e a libertação "ácida" que lhes sucedeu e as envolveu poderia ter sido melhor explorada por Gus Van Sant.

Apesar disso "Milk" é um quase docudrama, um poderoso relato do real de há mais de 30 anos, feito com enorme aproximação aos eventos, às personalidades e até às suas morfologias.
E claro que em "Milk" há um dos melhores papéis que Sean Penn já fez.
Mas se há filmes que requerem cuidado no conselho a outros é este. Não tanto pelas cenas de representação homossexual, que originaram a sua classificação como "restricted", decisão, aliás, em si mesmo ridícula. O que o torna aconselhável com precauções é a sua incompatibilidade com espectadores de pipocas nas mãos. Tenham eles que idade tiverem. É que "Milk" é mesmo um filme compreensível só por cidadãos adultos, tenham eles que idade tiverem.

'Milk' movie trailer

2009 é um ano com o mago Jon Hassell dentro

Está para breve, muito breve, a chegada de um disco novo do mais transfronteiriço dos homens do Jazz actual, de nome "Last night the moon came dropping its clothes in the street".
O clip escolhido remete para Belgrado, em 2006, e para os sons de "Maarifa Street", do ano anterior. Um Jazz muito raro, hipnótico, quase místico.

por uma vez o Diversus não resiste ao "glamour" dos "Óscares"

"Slumdog Millionaire" impressionou-nos muitíssimo. Explicámo-lo ainda a quente.
No "day after" da grande noite de Hollywood, é preciso referir que esta foi das menos americanas cerimónias dos "Óscares" de sempre, com apenas Sean Penn a permitir aos nativos alguma vitória de relevo. De resto foram sobretudo os australianos (desde logo no "entertainment", com Hugh Jackman), mas também britânicos (Kate Winslet e Danny Boyle), uma espanhola (Penélope Cruz) e os vários indianos do filme ganhador a levarem a estatueta, ou pelo menos a permitirem que outros ganhassem.

Para o devido registo, esta é a lista de prémios (o quadro do IMDB é de consulta obrigatória):


Actriz secundária: PENÉLOPE CRUZ, "Vicky Cristina Barcelona"
Argumento original: DUSTIN LANCE BLACK, "Milk"
Argumento adaptado: SIMON BEAUFOY, "Slumdog Millionaire"
Longa-metragem de animação: "WALL-E"
Curta-metragem de animação: "La Maison en Petits Cubes"
Cenografia: "The Curious Case of Benjamin Button"
Figurinos: "the Duchess"
Maquilhagem: "The Curious Case of Benjamin Button"
Fotografia: ANTHONY DOD MANTLE, "Slumdog Millionaire"
Curta-metragem: "The Pig"
Actor secundário: HEATH LEDGER, "Dark Knight"
Documentário de longa-metragem: "Man on Wire"
Documentário de curta-metragem: "Smile Pinky"
Efeitos Visuais: "The Curious Case of Benjamin Button"
Efeitos Sonoros: "Dark Knight"
Som: "Slumdog Millionaire"
Montagem: "Slumdog Millionaire"
Banda Sonora Original: "Slumdog Millionaire"
Canção Original: "Slumdog Millionaire"
Filme Estrangeiro: "Departure" (Japão)
Melhor Realizador: DANNY BOYLE, "Slumdog Millionaire"
Melhor Actriz: KATE WINSLET, (por "the Reader")
Melhor Actor: SEAN PENN, (por "Milk")
Melhor Filme: "Slumdog Millionaire"

e quem é Andrew Bird?

há 25 anos inovar era, entre outros, o papel dos Test Dept.

tal como os Propellerheads, por vezes sinto saudades de Shirley Bassey

o resultado de quando Kenny Wheeler pega em Bill Evans

Há quem chame a este quinteto os "fab five" do Jazz de hoje. Talvez um exagero, apesar de Kenny Wheeler.

dia 28 de Fevereiro somos todos de Barcelona, no Lux

I'm From Barcelona feat. SoKo "Gunhild"

Van Morrison, ou a revisitação da glória de "Astral Weeks"

a música subtil dos Advisory Circle, ou seja de Jon Brooks

Há em "Other Channels" de The Advisory Circle algo que não se alcança com facilidade. Parece música de feira, ou então uma odisseia ao melhor estilo dos Kraftwerk dos anos 1970. É música fragmentária, são pequenos sopros de vida com música por detrás. E é depois um conceito de respiração sonora, ansiosa, com detalhe microscópico, sensível. São muitas teclas e muita inspiração. E encontro enfim a imagem que procurava: "Other Channels" parece uma banda sonora da vida real. Uma música bonita, notável.

e um certo dia descobre-se M. Ward

da Holanda com muito beat, os Skeewiff

e quando duas lendas do blues/soul branco se juntam... "Going Down"

o blues branco de J.J. Cale, o cowboy mais cool da América

e que vivam os Soapbox

Os Storytellers acabaram (acabaram?), mas o Simão Martins, o João Francisco e o Gonçalo Abrantes já têm os Soapbox. Há um lugar público só seu, no MYSPACE, aqui, creio que somente com canções do projecto anterior. Mas por pouco tempo, pois, no Radarscópio, o João prometia para breve maquete com som novo.
O Diversus é fã do agora quarteto (PS) e acredita que, em estúdio ou ao vivo, toda a sua maturidade criativa só pode explodir. E "Scissor Friends" é indiscutivelmente uma bela canção romântica, talvez o pináculo da sua arte, so far. Podia bem inspirar o "road map" do futuro dos Soapbox.

2009 já tem um grande grande álbum, mas estranhíssimo

A melhor obra musical com publicação em 2009 é já "Liedgut", de Atom TM.

Enorme em qualidade e em rasgo, é um conjunto de peças sonoras muito difíceis, apenas compreensíveis por quem da música espera muito mais que conforto e até sobrevive com a dor que por vezes advém do ruído, ou do caos. Mas, se ultrapassado o murro no estômago, sente-se logo depois que, a seguir às tormentas, fica uma verdadeira obra de arte. Em pouco mais de 30 minutos.

Aquaparque ao vivo e em cheio

Os Aquaparque fazem o melhor som de hoje em português, se esquecermos que os Dead Combo existem.
O seu álbum de canções "É Isso Aí" rasga futuro e o concerto desta 5ª fª, no Museu do Chiado, foi uma demonstração extraordinária de como inovar repescando no baú das boas coisas antigas.
E é claro que este som, como diziam o Belanciano e o ZEFM, vai à procura daquele outro magnífico dos Ocaso Épico de há mais de 20 anos, que uma bela noite escutei com mais uns 10 no velho teatrinho de "A Barraca", ali ao pé do Largo do Rato, em Lisboa.
Um belíssimo momento ao vivo, antecedendo um ruidoso Gavin Russom a solo, mas verdadeiramente a precisar de companhia.

o Subsidio

O Subsidio é o melhor blogue de culturas que descobrimos faz largos meses. Fala de várias artes e linguagens e distingue-se muitíssimo. Mora por isso no lugar certo, aparecendo nas "ligações em dia" sempre que se refrescar.

Amp Fiddler, "I Believe in You"

Joe and Will Ask?, "Warm It Up"

Richard Swift, "Beautifulheart"

Há novas grandes vozes a emergir na América todos os anos. No caso de Richard Swift o seu trajecto não é de agora. Tem anos. Mas nunca é tarde demais para pela primeira vez escutarmos este timbre e esta capacidade de bem escrever e fazê-lo simples. Como se fosse apenas para nós e a primeira vez de Richard.

the Go! Team, "Milk Crisis"

the Week That Was, "Scratch the Surface"

the Cramps, "Naked Girl Falling Down The Stairs"

Que saudades teremos do "punkabilly" de Lux Interior.

os Cramps eram inteiramente de Lux Interior, até dia 4 de Fevereiro

foto de Lux Interior e sua mulher e guitarrista dos Cramps Poison Ivy, disponível aqui.

D. Lissvik, a canção 5 de"7 Trx + Intermission"

"Slumdog Millionaire" de Danny Boyle, ou a estranha sensação de ver o melhor filme do ano logo em Fevereiro

Será do hiper-realismo? Será do ritmo que a imparável banda sonora lhe imprime de ponta a ponta? Será do glorioso final, a lembrar o mais admirável "kitsch" de Bollywood, ou as grandes danças junto ao Sena de Gene Kelly no "Americano em Paris"? Será do enredo tão à Hollywood série B dos anos de 1930? Será do desnudamento de um carácter que só sabe mesmo dizer a verdade e que oferece só amor quando quem ama lhe pergunta de que viverão quando forem livres e felizes? Será da oportunidade de ganhar 20 milhões de rupias, experiência onírica e salvífica que todos perseguimos (os 90 milhões que viram a fase final do concurso e todos nós, sobretudo quando a crise aperta) mas que Jamal agarra como única oportunidade para reencontrar a mulher a quem ele sabe que o destino o liga? Será da grandeza inesperada do irmão, Samir, que no cume do desafio resolve morrer para deixar viver o amor por que Jamal Malik, Latika e todos nós ansiávamos?
E faltam tantas outras perguntas para cujas respostas se encontraria mais uma e ainda outras razões para concluir que "Slumdog Millionaire" introduz extraordinária novidade na cinematografia do nosso tempo, um quase indizível arrebatamento que costuma caracterizar os grandes filmes do nosso tempo. E este é um enorme filme deste tempo. Talvez e de longe o melhor filme que este ano se verá.

PS - na grande referência internacional de consulta do cinema que é o Internet Movie Database, mais de 51.000 votos já elegeram "Slumdog Millionaire" o filme número 34 de todos os tempos. É uma proeza rara e absolutamente condigna. "Milk", por exemplo, é apenas número 233.

4 grandes discos de Janeiro

I'm Not A Gun, "Mirror" (2008)Blackbelt Andersen, "Blackbelt Andersen" (2009)
Andrew Bird, "Noble Beast" (2009)

Animal Collective, "Merriweather Post Pavillion" (2009)

The Week That Was, "Learn to Learn"