O nosso gosto sustenta-se em inúmeros factores, alguns dos quais não dominamos verdadeiramente.
Podemos talvez dizer que falamos então de uma hiper-subjectividade.
Por outro lado, a nossa vida, o nosso maior património, tende a ser reflectida por nós em todos os actos, projectando-se principalmente nos círculos sociais de proximidade.
Podemos dizer talvez que colocamos em acção e em escrutínio público no nosso dia-a-dia tudo o que somos, e em primeiro lugar as escolhas que já fizemos e as que faremos, como meio por excelência da nossa projecção egoísta.
Não tem mal maior, até porque, ao fazermo-lo, estamos a influenciar espírito crítico, nem que seja pela rejeição. E a rejeição do outro face à nossa escolha é já um novo processo de escolha também em acção.
A dialéctica dos gostos tende a ser em si mesma, aliás, um valor extraordinário. É a primeira fonte determinante do nosso progresso, ou dos nossos pequenos passos.
As nossas próprias escolhas também mudam, por vezes tornando-se antagónicas de outras escolhas que já fizemos. Esta contradição intestina, autêntica dúvida persistente, será a segunda fonte motriz do nosso seguir crescendo.
Tudo isto para dizer que a subjectividade e a relatividade, já agora também a efemeridade, são valores (sim, valores!) maiores na nossa relação com a cultura, como em grande medida com a vida.
Pensando por outro ângulo, valem as nossas escolhas, as pequenas e as maiores, as de continuidade e as de ruptura, o quê afinal? Talvez valham sobretudo porque nos permitem o encontro com a intimidade, com o eu íntimo, aquele mesmo eu que conta e nos faz seguir vivendo em equilíbrio.
Também por tudo isto as nossas escolhas valem primeira e ultimamente para nós e dificilmente valerão sequer próximo para quem mais quer que seja.
Quanto muito suscitarão uma fugaz curiosidade, pois também para quem nos conhece ou quem connosco está será ainda e sempre o seu eu que mais, muito mais, sempre contará.
E a cultura, o que é? Digamos que a cultura que hoje nos interessou trazer aqui em sub-texto é a cultura mesma em sentido quase agrícola, a que cultivamos no quintal da nossa vida, os ócios, os lazeres, as escolhas constitutivas da espiritualidade do nosso modo de vida, todos os dias.