segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Skream! e o fascinante dubstep

E porque não haveria o nóvel mas sombrio dubstep (é ouvir Burial, ou Kode9, fantásticos mas quase depressivos) de poder ser francamente dançável e até - a espaços - alegre?
Os Skream provam-no, em excertos aqui disponíveis.

É dark jazz? É o quê afinal este som? E uma flauta também? Estranho.


Mr. Holland em Lisboa, hoje à noite, no Casino

A propósito do concerto desta noite, com Spanky Wilson e os Quantic Soul Orchestra de Will Holland, apetece citar Dickens: what Great Expectations!

Atenção entretanto a este saboroso caminho para a música que logo mais se ouvirá.

sábado, 25 de novembro de 2006

umas poucas banalidades sobre a subjectividade e a relatividade na cultura


O nosso gosto sustenta-se em inúmeros factores, alguns dos quais não dominamos verdadeiramente.
Podemos talvez dizer que falamos então de uma hiper-subjectividade.

Por outro lado, a nossa vida, o nosso maior património, tende a ser reflectida por nós em todos os actos, projectando-se principalmente nos círculos sociais de proximidade.
Podemos dizer talvez que colocamos em acção e em escrutínio público no nosso dia-a-dia tudo o que somos, e em primeiro lugar as escolhas que já fizemos e as que faremos, como meio por excelência da nossa projecção egoísta.
Não tem mal maior, até porque, ao fazermo-lo, estamos a influenciar espírito crítico, nem que seja pela rejeição. E a rejeição do outro face à nossa escolha é já um novo processo de escolha também em acção.

A dialéctica dos gostos tende a ser em si mesma, aliás, um valor extraordinário. É a primeira fonte determinante do nosso progresso, ou dos nossos pequenos passos.

As nossas próprias escolhas também mudam, por vezes tornando-se antagónicas de outras escolhas que já fizemos. Esta contradição intestina, autêntica dúvida persistente, será a segunda fonte motriz do nosso seguir crescendo.

Tudo isto para dizer que a subjectividade e a relatividade, já agora também a efemeridade, são valores (sim, valores!) maiores na nossa relação com a cultura, como em grande medida com a vida.

Pensando por outro ângulo, valem as nossas escolhas, as pequenas e as maiores, as de continuidade e as de ruptura, o quê afinal? Talvez valham sobretudo porque nos permitem o encontro com a intimidade, com o eu íntimo, aquele mesmo eu que conta e nos faz seguir vivendo em equilíbrio.

Também por tudo isto as nossas escolhas valem primeira e ultimamente para nós e dificilmente valerão sequer próximo para quem mais quer que seja.
Quanto muito suscitarão uma fugaz curiosidade, pois também para quem nos conhece ou quem connosco está será ainda e sempre o seu eu que mais, muito mais, sempre contará.


E a cultura, o que é? Digamos que a cultura que hoje nos interessou trazer aqui em sub-texto é a cultura mesma em sentido quase agrícola, a que cultivamos no quintal da nossa vida, os ócios, os lazeres, as escolhas constitutivas da espiritualidade do nosso modo de vida, todos os dias.

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

sábado, 18 de novembro de 2006

domingo, 12 de novembro de 2006

Herbert em Scale


Matthew Herbert fez já grandes coisas na sua vida artística.
Scale, saído em Maio passado, é mais uma delas.
Trata-se em primeiro lugar de um tratado Pop, um lugar de beleza rara, uma beleza rítmica como já pouco se vê.
Num ano marcado pela explosão do belo sofisticado na produção da música moderna (Pretz, Zero 7, Nathan Fake), Scale traz-nos ainda a honestidade de quem não quer impressionar, somente fazer bem.
E o resultado impressiona mais e mais a cada audição.

E dizemos tudo isto hoje, o dia em que finalmente concluimos ser Scale seguramente um dos discos mais fortes deste ano maravilha.

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Carl Hancock Rux, o poeta do Harlem




Com Good Bread Alley, Carl assina o seu melhor esforço, solidificando um percurso sempre em crescendo de poesia e intensidade.

Espaço muito próprio, entre o declamativo/discursivo e o Soul de extracção Marvin Gaye/Curtis Mayfield, o Carl Hancock Rux de 2006 assenta mais um grande pilar numa obra que encontra a genialidade com frequência - já em 1994 o NY Times antevia nele um dos 30 nova-iorquinos com maior influência cultural para a década seguinte - e que nos apetece cada vez mais encostar na prateleira junto de Ursula Rucker, a grande senhora de Philadelphia (também presente em 2006, embora com percurso qualitativamente inverso, do sublime para sempre um pouco menos que sublime).

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Junior Boys e a juventude



Os sons raramente têm idade. Mesmo assim, atrevemo-nos a dizer que 95% das edições musicais correntes são logo velhas quando nascem, e por outro lado facilmente conseguiriamos agora mesmo elencar umas boas centenas de propostas de audição que, mesmo com 20, 30 ou 40 anos impressionariam ainda qualquer ouvinte médio, pela juventude, pelo desassombro, pela capacidade de até chocar.


Tudo isto por culpa dos canadianos Junior Boys e de um som que pode soar falsamente igual a outros, eventualmente arrumável no escaparate das inúmeras bandas teen, mas de facto tornado um espaço muito próprio, provavelmente capaz de continuar a ser novo dentro de 20 anos.


So This Is Goodbye, o belo segundo álbum (depois de Last Exit, de 2004) deste grupo canadiano do Ontario - nascido já em 1999 - atrairá multidões de espectros culturais diversos e é ainda para o DIVERSUS uma novidade em digestão, mas fica a conclusão provisória: esta colheita 2006 é coisa mesmo séria, muito para além de apenas teen Pop, que afinal também sabe e bem ser.




Nomo


De Detroit para uma das grandes casas europeias dos sopros, a Ubiquity Records, chegam 8 agitados cavalheiros e chega New Tones, um disco com um desígnio: fazer "splash".

New Tones revela-nos haver memórias em Detroit dos grandes baluartes dos metais quando dispostos em naipe e soltos para o povo universal (definição possível do que é a Pop); memória de Charlie Parker, mas também dos Pig Bag.

E, ouvido este bálsamo sonoro (segundo álbum da carreira, primeiro na Europa), como tratam bem os Nomo tão notáveis memórias!

domingo, 5 de novembro de 2006

e eis uma (super) prenda para o mundo


Uma prenda para todos


E a nossa prenda é... este caminho para o sítio onde ouvir na íntegra as novas canções de Domenico Ferrari, do álbum de (Agosto de) 2006, SuperTaste.

Claro que Commute fôra outra coisa, da ordem do estratosférico, uma autêntica obra prima.

SuperTaste é no entanto também uma excelente aventura Pop, fresca e despretensiosa, já disponível na Symbiose, a preço muitíssimo convidativo.

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Little Annie



Não é Pop, não é electro, claramente não é folk, não é trip hop, nem acid, jazz não é, blues também não, mas é afinal um pouco de tudo isto.
Songs From the Coal Mine Canary é sobretudo um pedaço de tempo bem passado, uma música para digerir com espírito sereno e capaz de produzir efeito mais poderoso que muito ansiolítico.

Little Annie revela-se uma criadora em registo peculiar, com composições características da grande tradição de writing feminino, que nos reconduz a Joni Mitchell, a Janis Joplin, passa por Anette Peacock e vem desaguar a compositoras mais contemporâneas como Leila, ou mesmo Jhelisa, para falar já de 2006 (Jhelisa).

Disco para ir saboreando, capaz de suportar as exigências da noite, Songs From the Coalmine Canary revela quase todos os argumentos logo no seu início, mas vai crescendo sempre, atingindo o cume de alma mais para a frente, em Diamonds Made of Glassine.

E quando termina, sentimos que Little Annie nos trouxe por aqui mais um belo pretexto para ouvirmos música fresca, de uma modernidade de agora mesmo.