No passado domingo fomos ouvir um dos grandes sons de 2003, o dos MICATONE.
Os MICATONE foram autores, no àlbum "Is you is", de alguns dos sons mais elegantes e verdadeiramente mais agradáveis dos últimos tempos.
Ao vivo ficou o testemunho de uma bela cantora, um grupo homogéneo e capaz de reproduzir bem os sons que já conhecíamos, mas sem grande chama, sem aquele "little bit" mais que em alguns concertos conseguimos encontrar.
Há concertos assim, que dão razão à máxima segundo a qual o valor verdadeiro de um músico se mede em estúdio. Acreditamos nessa máxima.
Claro que valeu a pena ouvir "Plastic Bags & Magazines". Mas o que importa se foi apenas uma noite mediana se temos "Is you is" para a eternidade?
Boa primeira parte dos SPACEBOYS, um grupo de portugueses com som bem elaborado, forte, muito vivo. Talvez autores dos melhores momentos da noite.
domingo, 25 de abril de 2004
MICATONE na Aula Magna
sábado, 3 de abril de 2004
Ursula Rucker em Lisboa
A performance de Ursula Rucker no S. Luis, ontem, aproximou-se muito de um recital poético.
Esse lado recitativo, apanágio já das suas edições em disco - Ursula editou até hoje dois àlbuns de canções magníficos, "Supa Sista" e "Silver or Lead" - não diminiu no entanto o elevadíssimo patamar musical a que Ursula e Tim Motzer, este um multi-instrumentista de grande brilho, se alcandoraram.
Ursula aliás chama poemas às suas canções.
O concerto de ontem no S. Luis valeu pela confirmação do seu valor enquanto "persona" complexa, movida por uma atitude cultural empenhada, uma arte com bandeiras: a mulher, a criança, os americanos negros.
De Ursula Rucker guardámos a convicção que a efemeridade não mora ali e que outras obras de vulto se seguirão inevitavelmente. A sua música, densa, rica, enérgica, sempre luminosa, ganhou ao vivo uma objectividade que apesar de tudo o segundo disco aqui ou ali arriscou deitar a perder.
"What a woman must do", exactamente inserto em "Silver or Lead", foi intenso e talvez o momento da noite.
Das múltiplas intervenções de Ursula entre canções registamos uma que não poderiamos esquecer neste desabafo: "Portugal has something special".
Ontem Portugal confirmou que algo de especial há realmente nos portugueses, particularmente em Lisboa: cidade que acolhe em dois dias consecutivos três vultos tão extraordinários como Ursula Rucker, Kraftwerk e David Byrne e que a todos presenteia com farto público, só pode ser cidade viva, culta, inteligente.
Agora que se aproximam outros momentos de brilho assegurado, Micatone, Lambchop, Pixies, Massive Attack, vamos provavelmente assistir à luta de titãs entre a força viva das culturas novas e o frenesim oco dos festivais mainstream.
E essa já seria uma boa deixa para um outro poema-canção de Ursula, como ela sabe fazer: talvez "the white city dilema".